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" Naufrágio "


(Conto) Ivan Matvichuc



          São fatos banais que ocorrem nos rios do Norte deste país. A natureza é selvagem demais para ser domada e somos infinitamente pequenos diante da grandeza amazônica. As águas agitadas, os rebojos e os remansos engolem barcos, pessoas e cargas, que deixam de ser, em questão de segundos, valiosos. Os ribeirinhos convivem diariamente com esta dura realidade.


          Certa vez, um barco de Manaus, desses bem grandes, totalmente lotado, descia o rio caudaloso, sob o manto de uma noite escura, onde o perigo espreitava em cada curva e em cada tronco boiando, arrastado pela correnteza e que poderia a qualquer momento chocar-se contra o casco da frágil embarcação, finalizando tragicamente a viagem. 


          Só um comandante hábil e experiente poderia evitar tal tragédia, mas isso não ocorreu com este barco manauara. O problema é que nem todos são responsáveis e exatamente esse homem, tonto de sono e cansado das farras da noite anterior, agravadas pela rotina paisagista, a mesmice fluvial do seu cotidiano, acabou-se entregando aos braços do deus Morfeu e sonhou com todas as sereias amazônicas, ninando suas fantasias. Dormiu bonito, feito anjo. E o barco ? Bem, esse teve um triste destino; desgovernado, sem comando, foi navegando na direção da margem, onde bateu, tombou e começou a fazer água. Tumulto geral ! 


          Os passageiros apavorados saltaram próximo da margem para fugir do inferno fluvial, que se instalou. Surpresa !!! Quem é que os aguardava na margem para lhes dar as boas vindas ? - Uma linda onça pintada, faminta e com uma fome insaciável os aguardava feliz. Monstro de olhos brilhantes, que observava com satisfação seu jantar se aproximando e só de pensar nisso abria sua enorme boca, onde sua língua salivava de prazer pelos quitutes inesperados e que jamais poderia dispensar. Os náufragos apavorados não ousavam avançar. Que fazer ? - "Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come". Na frente uma onça faminta e assanhada, atrás um barco, que lentamente naufragava. Morrer comido pela fera ou morrer engolido pelas águas do rio ? Dúvida cruel. 


          Nestas horas sempre aparece o salvador da Pátria, um milagreiro qualquer, que conseguiu acender uma fogueira e afugentou uma contrariada onça, que acabara de perder seu apetitoso jantar e os náufragos, respirando aliviados, conseguiram resgatar suas preciosas vidas, graças ao bom Deus, que protege os ribeirinhos desta imensa Amazônia.



(Conto publicado na Antologia "A Forja da Liberdade" da Editora Arnaldo
Giraldo, de São Paulo - Maio de 2003 - Páginas 82 e 83).

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