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I C H O A S S U S T A D O
(conto) Ivan Matvichuc
Gosto de ouvir "histórias de pescador", _selfmente quando contadas pelo meu cunhado Carlito, o “Português” da Cachoeirinha, jogador e artilheiro, nos saudosos anos 50, do Nacional F.C., tradicional time manauara.
São as tradicionais histórias, que são contadas no cair das preguiçosas tardes do eterno verão amazonense, onde se costuma jogar conversa fora, nas famosas rodas regadas com muita cerveja gelada e onde todos tentam convencer, uns aos outros, das verdades, que apenas são contadas nos bares da vida. Carlito adora contar a história de uma pescaria ocorrida há muitos anos nas piscosas águas do Rio Negro. Ele e alguns amigos, desses de fim de semana, que adoram se reunir para "pescar", ou mais precisamente ficar longe de suas "caras-metades", para poder beber tranqüilamente e não sofrer nenhuma espécie de censura.
E assim numa
destas tardes amazonenses, quando
estavam bem próximos da margem, puxando enorme
rede, foram surpreendidos
por um inesperado visitante, um
intruso que não tinha sido convidado para aquela confraria pesqueira - um
monstruoso jacaré, que conseguiu se
desvencilhar da rede, onde
estava preso,
e acabou
investindo contra eles.
Apavorados, largaram tudo e “desembestaram” em
desabalada corrida.
- "Pernas prá que te
quero!” -- "Salve-se, quem
puder ! " - Já diziam os
refrões populares. Naquele
momento eram estes os principais pensamentos
dos apavorados pescadores.
Eles na frente e o
bicho atrás.
Em dado
momento, notaram
que o réptil os ultrapassou na corrida e de perseguidos viraram
perseguidores, ou seja, o inverso, jacaré
na frente,
pescadores atrás.
Carlito parou
e deteve também os demais
companheiros:
-
"Rapaz ! por que
é que
estamos correndo
desse jeito?
O jacaré
já passou e foi embora. Ele
tá mais
apavorado do que a gente. Vamos
voltar e deixar
o bichinho
sumir em
paz”.
São estas, segundo
Carlito, “histórias
verídicas”, se é
que podemos
chamá-las assim, quando se
trata das famosas e tradicionais
“ histórias de
pescador ”.
Meu cunhado, contudo,
jura que
é verdade e
eu acredito...
E naquela linda
noite amazonense,
todos acabaram
comendo aquele peixe assado "pescado" no Mercado
Municipal...
(Conto publicado na Antologia “Talentos da Maior Idade” – 2003 da Litteris Editora, do Rio de Janeiro – páginas 56 e 57).
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