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" DISK – CAROL DOCES "

                     (conto)    Fátima Queiroz

 

D

ona  Carolzina,  mais conhecida como Dona Carol,  (pois  detestava  seu  nome,  que  provinha   da     junção  do  nome  do  pai Carlos, e da mãe Orolzina, dando Carolzina), era uma senhora viúva, de 65 anos, muito  religiosa  e  convicta  dos  valores  morais.

                 Casara muito jovem com seu Carlos funcionário dos Correios e Telégrafos,  numa  pequena  cidadezinha,  no  interior  de  Minas. Sem   filhos,   viveram   um   para  o  outro  muito  felizes,   até  o  dia  do    famigerado  Infarte,  que  fulminou   seu   Carlos  e  o  levou  desta  vida.

                 Viúva    três  anos,   Dona  Carol  resolveu  mudar-se  para a Capital, instalou-se num pequeno  apartamento no centro e deu início  a  uma  nova  vida.

                 Como  a  carestia  da  vida crescia dia após dia, resolveu fazer algum trabalho, que lhe rendesse algum dinheiro.  Assim sendo, pensou, pensou...    até   que   teve  a  magnífica  idéia  de  confeccionar  doces  e  salgadinhos para vender. Sim, com certeza isso daria dinheiro !  E assim fez.

                 Em  primeiro  lugar,  lançou  mão  da  propaganda, mandando imprimir  alguns  panfletos  com  os  seguintes  dizeres:

  

                                                      "DELÍCIAS DE CAROL"

                                    Se deseja conhecer os prazeres dos deuses,

                                                               ligue para:

                                                          CAROL: 467- 1732

 

                 Os  panfletos  foram  distribuídos  por  toda  a  cidade  e após alguns dias começaram a surgir os mais estranhos telefonemas, sendo mais  freqüentes  na  parte  noturna,  e  sempre  eram  vozes masculinas com  as frases  mais  esquisitas  como:  " Minha gata, espero em breve provar suas delícias...miau...! Qual o endereço, gatinha ?.." ou –"Quero  experimentar  não o prazer   dos  deuses, mas o seu debaixo dos meus lençóis ... ! "    Outros  ainda  ficavam  gemendo, parecendo  bichos  e balbuciando   coisas   inteligíveis.

                 Dona Carol, na sua ingênua simplicidade, não entendia o que acontecia,  pois quando respondia  que as delícias eram salgadinhos e doces caseiros  que  ela  vendia, as vozes ora riam fazendo gozações, ora xingavam  com  palavrões  e  desligavam  na  sua  cara.

                 A situação ficou deveras tão insuportável, que resolveu recorrer ao Padre Olavo, da paróquia que ela freqüentava, que após uma longa conversa esclareceu-lhe todo o equívoco.

                 Então  era  isso ?  Que  vergonha !  Ela,  uma  viúva de idade    avançada, honesta, cumpridora de seus deveres cristãos, estupidamente confundida   com  essas  "Garotas  de  Programas"...!   Que   absurdo... !

                 Mas, com a orientação de Padre Olavo, tudo retornou ao normal.     Sua  primeira  iniciativa  foi trocar o número  do  telefone, depois  imprimir novos   panfletos   com   novos   dizeres :

 

                                                "DISK – CAROL DOCES"

                                 Se deseja doces e salgadinhos para sua festa

                                                           ligue para:

                                             "CAROL DOCES – 468-1738"

 

                 E  deu  certo.  Hoje  em  dia,  Dona  Carol  é  proprietária de uma pequena  doceira  e  está  muito  feliz  com  seu  negócio  de  doces  e  salgados.

O  movimento  vem  crescendo  tanto, que  está  lhe  nascendo  a  idéia de  abrir   uma   filial.   Quem   sabe ? ...

 

(Conto publicado na Antologia Literária “Nas Asas da Imaginação” – 2003 pela Casa do Novo Autor Editora, de São Paulo – Páginas 82 e 83).

 Dedico este conto à minha amiga Luci Marques, de Santos, que me inspirou e incentivou a escrevê-lo.

              
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