" OS ESTRANHOS
SERVIÇAIS "
(conto)
Ivan Matvichuc
Existem coisas na vida que até Deus duvida. São fatos inusitados que parecem lendas, contadas pelos ribeirinhos da Amazônia. Nossa querida e saudosa Tia Dinga contou-nos uma experiência vivida por ela, dentro deste conceito de anormalidade inusitada, do chamado "sui generis", que povoa e colore o imaginário da vida.
Contou que certa vez foi visitar uma amiga viúva num sítio do Paraná do Ramos, lá no Amazonas e a encontrou saudosa e solitária com seu nenê de poucos dias de vida. A casa dela era grande e Dinga notou que Clemilde, sua amiga, vivia sozinha e sem empregados e indagou:
- "Como você vive aqui sozinha e dá conta de cuidar do nenê e dessa casa tão grande ? ".
- " Não estou sozinha, tenho a Chiquinha e o Januário que fazem todo o serviço da casa e
ainda ajudam a cuidar do nenê".
Descreveu a eficiência dos referidos serviçais, casal laborioso, responsável e digno dos melhores elogios. Tia Dinga parabenizou a amiga, que se virou rapidamente e gritou para a cozinha:
- "Chiquinha, traga a mamadeira do nenê e você, Januário, um suco de pitanga pra
visita !"
O que sucedeu em seguida não dá para acreditar. Surgiram na sala dois enormes macacos de avental e touca, um com a mamadeira e o outro, toalha branca dobrada no braço e segurando uma pequena bandeja com um copo de suco, gentilmente oferecido à petrificada Tia Dinga, que gaguejando recusou, alegando não beber suco de pitanga, muito ácido para sua gastrite. Despediu-se, rapidamente, com a desculpa de não estar se sentindo bem e fugiu espavorida dali. São lembranças pitorescas de suas reminiscências amazônicas...
(Conto publicado na Antologia do III Concurso Grandes
Nomes da Literatura Brasileira pela
Phoenix Editora, de São Paulo, página 32 - Dezembro de 2002)
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