(Conto) João Matvichuc
A Natureza é pródiga na magia desta beleza, que nos transporta ao azul do céu, ao sabor de um vento tépido, que beija as pétalas das flores, numa carícia sensual.
Seus devaneios são interrompidos pela voz de Fafá, sua esposa, que se aproxima da janela e vem dividir com o marido emoções de estar ali, diante de um mundo, herança divina, que Deus depositou aos nossos pés, para que possamos desfrutar nesta nossa perene estada terrena.
- "Que lugar lindo ! Olhe que mar azul ! Você já viu um lugar assim tão bonito, Johnny ? "
- "Já e não precisávamos vir para um local tão distante. No Brasil existem muitas praias bonitas. Basta viajar para o Nordeste”.
- "Não seja "ranzinza", meu velho. Devemos é aproveitar a boa sorte que tivemos de viajar, conhecer a Venezuela e o tão falado Caribe...”
Ficaram alguns instantes calados observando o movimento das pessoas caminhando pela calçada. Diante delas uma enorme avenida pontilhada de lojas e magazines. Na noite anterior, quando chegaram ao hotel, tiveram a oportunidade de observar as vitrines repletas com roupas muito leves e multicoloridas, como devem ser os trajes das pessoas no calor caribenho, com muito sol e calor senegalesco, no eterno Verão dos trópicos; muita alegria pairando no ar e nos rostos das pessoas que passeavam no "calçadão", dando uma espiada nos últimos lançamentos da moda.
Curtir a boa vida dos aposentados, viajar, passear despreocupadamente e gastar todas as economias de uma vida de trabalho, porque, afinal, elas não nos acompanham na viagem final.
- " Chega de ficar à toa, seu Johnny e vamos tomar um banho, pois já está na hora do nosso desjejum ".
Enquanto deixava a tépida água do chuveiro rolar sobre seu corpo ensaboado, Johnny escutou o barulho de batidas insistentes na porta do apartamento. Quem seria aquela hora da manhã? Fafá, ainda de mini camisola, abriu a porta com muito cuidado, um pouco assustada e deu de cara com uma mulher negra muito alta, agitada, fazendo gestos extravagantes, tentando explicar o que queria, num inglês pavoroso, mesclado de expressões, num papeamento indecifrável.
A pobre Fafá, sonolenta e espantada tentava entender o gestual e o estranho palavreado da exótica visitante, mas não conseguia entender patavina, ou seja, "nadica de nada".
A mulher acompanhada de duas crianças assustadas ( suas filhas? ), nervosa gesticulava cada vez mais e no auge da agitação balançava os seus frenéticos laçarotes nos cabelos negros espetados no tradicional "African Power".
Fafá movida por uma súbita suspeita que lhe veio a mente, perguntou segu-rando a mulher pelos ombros se era " fire ! " (fogo) o problema e se ela veio avisar que o hotel estava pegando fogo - "No, no fire" (não, não é incêndio), respondeu gritando e com gestos mais frenéticos, a estranha saiu arrastando a pobre semi - despida Fafá pelo corredor dizendo: - " come, come, please " (venha, por favor) e como a alucinada arrastava Fafá em direção do elevador – um verdadeiro "seqüestro", na acepção da palavra.
Entraram rapidamente no elevador e Fafá, ao se ver livre do assédio da outra, deu a partida para descer acionando o botão luminoso "0" e a mulher ao ver isso, percebeu que o “zero” foi a chave da questão, solucionando o problema da alegre e agitada turista da Guiana Inglesa, que estava conhecendo a Venezuela e os seus estranhos elevadores.
Nada melhor para esquecer os percalços da vida do que caminhar até a praia, a fim de desfrutar os raios "calientes" do eterno Verão tropical da ilha caribenha, onde o mar está sempre convidativo, água límpida refletindo o intenso azul do céu, deixando transparecer dezenas de peixinhos brincando entre suas pernas.
- "Ah ! Que delicia ! ", dizia Fafá "curtindo" os prazeres da Natureza.
A massagem das ondas do mar, lhes propiciavam uma sensação de prazer e volúpia, que há muito tempo não sentiam, principalmente ao ouvir o barulho das ondas do mar e o canto dos pássaros, numa alegre algazarra, que agitava as palmeiras da praia.
Realmente, aquela foi uma alegre e radiante manhã de Verão, BOA sob todos os aspectos, ressalvados, é claro, os inesperados " seqüestros " da vida...
Conto publicado na Antologia “Brasileiros em Prosa & Verso” – Edições Alba – 2008 de Varginha – MG – Prêmio de Menção Honrosa – Páginas 79 a 81.
<< Voltar
_________________________________________
_________________________________________ |
site: http://ivanfa.mhx.com.br/