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" O Seqüestro "   

(Conto) João Matvichuc 

 

                   Maravilha da natureza, pérola deslumbrante de uma beleza sem igual, onde o verde das avenidas arborizadas  e os retângulos mesclados   de flores multicoloridas vicejando nas  praças, contrastam com o  mar  ao  longe,  na  linha perdida  do  horizonte,  até  onde  a  vista  pode  alcançar.

                 A Natureza é pródiga na magia desta beleza, que nos transporta ao   azul  do  céu,  ao sabor de um vento tépido,  que  beija as pétalas  das  flores, numa carícia sensual.   

                 Sensações que nos afagam a alma e passam  despercebidas  no torvelinho  das  nossas  inquietudes, nas agitações das grandes  cidades,   onde se tem pressa de chegar e ninguém sabe onde.Talvez, apressar nossos passos para que caminhem mais rápidos na direção  da  vereda  final.

                 Perdido  em  seus pensamentos, Johnny observava da janela do hotel, as belezas naturais dessa linda ilha venezuelana: " Isla Margarita ”,  a também chamada  " Pérola Encantada do Atlântico ", de encantos mil. Realmente o lugar é o próprio paraíso.

                Seus  devaneios  são  interrompidos  pela  voz  de  Fafá,  sua  esposa,   que   se aproxima  da  janela e vem dividir com o marido  emoções  de  estar  ali,  diante  de  um mundo, herança divina, que Deus  depositou  aos  nossos  pés, para  que  possamos  desfrutar  nesta nossa  perene  estada  terrena.

-      "Que  lugar  lindo !  Olhe  que mar azul !  Você  já  viu  um lugar assim tão bonito,  Johnny ? "

-     "Já  e  não   precisávamos  vir   para   um   local   tão  distante.  No  Brasil   existem  muitas praias bonitas. Basta viajar para o Nordeste”.  

-     "Não  seja  "ranzinza",  meu  velho.  Devemos é aproveitar a  boa sorte que tivemos de viajar, conhecer a Venezuela e o tão falado Caribe...”  

                 Ficaram alguns instantes calados observando o movimento das pessoas caminhando  pela  calçada.  Diante  delas  uma  enorme  avenida pontilhada de lojas e magazines.   Na  noite  anterior,  quando  chegaram  ao   hotel,  tiveram  a  oportunidade   de observar  as  vitrines  repletas com roupas  muito leves e multicoloridas,  como  devem  ser  os trajes das pessoas no calor caribenho,  com  muito  sol  e  calor  senegalesco, no eterno  Verão  dos   trópicos; muita alegria pairando no ar e nos rostos das pessoas  que  passeavam no "calçadão", dando uma  espiada nos  últimos  lançamentos  da moda.

                   Curtir  a  boa  vida  dos  aposentados, viajar,  passear  despreocupadamente  e  gastar  todas  as economias  de  uma  vida  de  trabalho, porque, afinal, elas  não nos acompanham na viagem final.

-   " Chega de ficar à toa,  seu Johnny e vamos tomar  um  banho, pois já está na hora do  nosso  desjejum ".

                 Enquanto deixava a  tépida  água  do  chuveiro  rolar  sobre  seu  corpo  ensaboado, Johnny escutou o barulho de batidas insistentes na  porta do apartamento. Quem seria  aquela  hora  da  manhã?  Fafá,  ainda  de  mini camisola, abriu a porta com muito  cuidado, um  pouco  assustada e deu de cara com  uma mulher negra muito alta, agitada,   fazendo  gestos  extravagantes,   tentando  explicar o que  queria,  num  inglês pavoroso,  mesclado    de expressões, num papeamento indecifrável.

                 A pobre Fafá, sonolenta e espantada tentava entender o  gestual e o estranho palavreado  da  exótica  visitante,  mas  não  conseguia  entender   patavina,   ou    seja,  "nadica  de  nada".

                   A  mulher  acompanhada   de   duas  crianças   assustadas   ( suas  filhas? ),  nervosa  gesticulava  cada vez mais e no auge da agitação balançava os seus frenéticos laçarotes nos cabelos negros espetados  no  tradicional  "African  Power".

                 Fafá  movida  por uma súbita suspeita que lhe veio a mente, perguntou segu-rando  a  mulher pelos ombros  se  era  " fire ! "  (fogo)  o problema e se ela veio  avisar  que  o  hotel estava  pegando  fogo -  "No,  no  fire"  (não,  não  é  incêndio),  respondeu  gritando e com gestos mais frenéticos, a estranha saiu arrastando a pobre semi - despida Fafá  pelo  corredor  dizendo:  -  " come, come, please "  (venha,  por  favor)  e  como  a alucinada   arrastava  Fafá  em  direção  do  elevador –  um  verdadeiro  "seqüestro",  na  acepção  da  palavra.

                 Entraram rapidamente no elevador e  Fafá, ao se ver livre do assédio da outra,  deu a  partida  para  descer acionando  o  botão  luminoso  "0"  e  a mulher  ao  ver  isso, percebeu  que  o “zero”  foi  a  chave  da  questão, solucionando  o problema da alegre e agitada  turista  da  Guiana  Inglesa,   que  estava   conhecendo  a  Venezuela  e  os  seus estranhos elevadores.

                   Nada  melhor  para  esquecer  os  percalços  da  vida  do  que caminhar até a praia, a fim de desfrutar os raios  "calientes" do eterno Verão tropical da ilha  caribenha,  onde o mar está  sempre  convidativo, água  límpida  refletindo  o  intenso  azul  do  céu,  deixando  transparecer  dezenas de peixinhos brincando entre suas pernas.

-   "Ah !   Que delicia ! ",  dizia  Fafá  "curtindo"  os  prazeres da  Natureza.                                          

                    A massagem das ondas do mar, lhes  propiciavam  uma  sensação de   prazer  e  volúpia,  que há muito  tempo  não  sentiam,  principalmente ao ouvir o barulho das ondas do mar  e o canto  dos  pássaros,  numa  alegre algazarra, que agitava as palmeiras da praia.

                   Realmente,  aquela  foi  uma  alegre  e  radiante  manhã de Verão,  BOA sob todos os   aspectos,   ressalvados,   é   claro,  os   inesperados  " seqüestros "  da   vida... 

 

Conto publicado na Antologia “Brasileiros em Prosa & Verso” – Edições Alba – 2008 de Varginha – MG – Prêmio de Menção Honrosa – Páginas 79 a 81.

 

 

 

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