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O REENCONTRO  DO  AMOR  PERDIDO

(Conto)

Ivan Matvichuc


 

 O Amor é um sentimento difícil de ser definido e sempre que saímos à cata de palavras, que possam melhor expressar o que vai em nossos corações, sentimos quão inócuas elas são e que acabam nos deixando mais confusos e perdidos nos labirintos das nossas emoções.

                 Já diziam os nossos poetas que o Amor tem um vínculo intrínseco com a Natureza e encontra suas metáforas poéticas numa nuvem que passa, no sol que brilha ao nascer e agoniza no seio da tarde, na chuva que cai, penetra no solo e reproduz o ciclo maravilhoso da vida.

                 Ficamos emocionados quando ouvimos uma canção, quando cruzamos olhares e sentimos que estamos enamorados, um gesto, um carinho espontâneo e uma certeza de que somos seres, que não conseguem viver solitários e precisamos uns dos outros para amar e completar nossas perenes existências e quando não encontramos esse alguém para  partilhar das nossas vidas, ou fazemos questão de ficar distantes, isolados do mundo, acabamos virando metade de nós mesmos.

                A solidão, mesmo que breve,  produz uma angústia difícil de ser suportada, quanto mais vivida. Foi exatamente esta sensação que Johnny sentiu ao se ver subitamente privado da  presença da pessoa que ele mais amava, a sua companheira querida, de longas jornadas, a quem ele chamava carinhosamente de Fafá.

                 Johnny e Fafá, casal de aposentados sexagenários, cansados da mesmice rotineira da vida, resolveram viajar, aproveitando o crepúsculo de suas existências para realizarem o sonho acalentado de todo o aposentado, que se preze – fazer uma viagem bem longa  e curtir as delícias de uma vida despreocupada e repleta de prazeres.

                 Partiram para o Norte do país, Pará e Amazonas e dali deram uma "esticada" até o Caribe venezuelano, mais exatamente na afrodisíaca "Isla Margarita", onde puderam "curtir" o sol "caliente" e uma segunda  Lua de Mel,  naquele maravilhoso recanto turístico.

                 Talvez, não estamos entendendo o porquê da angústia de Johnny e a  resposta poderia estar no simples fato de não valorizarmos as pessoas que amamos. Somos relapsos com os nossos sentimentos e a  mesmice do nosso cotidiano dá-nos a falsa impressão que somos donos da vida, fazendo-nos acreditar que nada, nada mesmo poderá empanar o brilho da nossa felicidade. Triste e cruel engano.

                 Chegando na Rodoviária de Ciudad Bolívar, na Venezuela,  Johnny deixou a esposa numa das plataformas e foi até o guichê  da empresa, onde  foi informado pelo funcionário que o ônibus sairia dentro de dez minutos. Retornou rapidamente ao local onde tinha deixado Fafá esperando, avisou-a deste fato, agarrou as bagagens e se precipitou na direção da plataforma de embarque.

                 O problema é que ele corria muito. No seu afã de chegar logo ao ônibus, não percebeu que tinha deixado a esposa muito para trás; ela não conseguindo acompanhá-lo na sua desenfreada corrida, acabou se perdendo.  Sumiu como some uma agulha no palheiro, no meio daquela imensa  multidão.

                 Desesperado, pediu que o motorista esperasse um pouco e correu apavorado em várias direções, tentando achar a esposa sumida. Nervoso, com o coração aos saltos tentava, numa ansiedade incontida, vislumbrar no meio daquela turba o vulto querido de Fafá, mas por mais que olhasse não conseguia vê-la em canto nenhum. Olhou, olhou e nada de Fafá. A angústia tomou conta do velho aposentado, não se conteve e começou  a  chorar.  Tinha  perdido a sua companheira, tudo por causa de

sua burrice de se precipitar na frente, ao invés de caminhar ao lado da esposa, como fazem os maridos normais.

                 Quando sentiu que a perda poderia ser irreparável, esse pensamento deu-lhe a exata noção do que seria sua vida sem ela e sentiu quão amarga é a dor de uma perda, como ela dói no coração e a certeza de que a amava muito e que não suspeitava, até então, da força desse sentimento.

                 Fechou os olhos e rezou pedindo ajuda. Sentiu paz no espírito e mais calmo pode vislumbrar no meio daquela massa humana um enorme "cocuruto" de cabelo, que passava de um lado para o outro, numa das plataformas. Reconheceu-o, imediatamente e num aceso de alegria incontida gritou o nome dela e sua voz ecoou por toda a Rodoviária. Era um grito de felicidade e no oceano dos rostos surgiu um lindo rostinho jovem sorrindo e dois lindos olhos negros de morrer, que aplacaram a angústia de um velho coração apaixonado, que reencontrou o amor perdido, através de um "cocuruto".  Estas são pequenas e infinitas gotas divinas, que nos fazem felizes, por um breve instante nas nossas efêmeras existências.

                 No ônibus, Johnny fechou os olhos, sentiu Fafá aconchegar junto ao seu corpo, sensação que lhe deu um prazer incomensurável, difícil de ser descrito e agradeceu a Deus pelo feliz desfecho.     

(Conto publicado na Antologia “Escritos Feitos de Amor” pela Casa do Novo Autor” de São Paulo – 2003 – Páginas 173 a 175).

 

 


Dedico esse conto a minha esposa e companheira Fátima Queiroz  (Fafá), _self  incentivadora de todos meus trabalhos literários.

 


  

              
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