“ O TSUNAME VICENTINO “

( crônica )

João Matvichuc

                   Tsuname é uma palavra tão bonita, mas de significado catastrófico, sinônimo de tragédia, nome moderno que praticamente substituiu o antigo “maremoto”, como é conhecido no Dicionário Aurélio. Sua origem é motivo de discussões acadêmicas, onde muito se fala e pouco se prova sobre seu surgimento, onde se inicia, a causa de sua formação e de que maneira poderia ser evitado, se é que existe alguma maneira de detectá-lo, antes que surja e cause tamanha devastação. Os maremotos estão ai para comprovar sua existência e que ele está cada vez mais vivo, ao destruir, sem dó, nem piedade, bens materiais e ceifar preciosas vidas humanas.

                   Recentemente, tivemos uma malfadada comprovação de sua presença, quando em questão de segundos inundou vários recantos paradisíacos da Ásia, matando milhares de pessoas, não poupando ricos, nem pobres, numa estranha e fatídica igualdade de classes.

                   Muita discussão, muita asneira saindo da boca de pseudos-especialistas no assunto, principalmente de políticos que não perdem a oportunidade de falarem sobre o assunto e de governantes, que são mais inclinados pelo Inferno, embora discursem como se estivessem no Paraíso. Certo presidente brasileiro, que prefiro não declinar seu nome, disse que o pessoal está achando o tsuname deveria servir de alerta para que preservemos a Natureza, que é mais madrasta do que mãe. Será? Não sabemos se a Natureza tem haver alguma coisa com estes tsunames, pode ser que sim, se prestarmos mais atenção no que está ocorrendo nas calotas polares, seu degelo rápido, o que engrossa as águas dos rios e dos mares. O que sabemos é que o “bicho homem” continua destruindo a Natureza e  cuspindo no seu próprio prato que come, quando polui e contamina os rios, que desaguam nos oceanos, devasta florestas, sem dó, nem piedade, privando-nos cada vez mais do tão necessário oxigênio, que respiramos. Sua fome de destruição é insaciável, polui a atmosfera com seus gazes mortíferos, em  nome de um pseudo-desenvolvimento industrial macabro, digno das grandes potências imperialistas do Planeta Terra e de certos interesses escusos de seus governantes.

                   Sempre gostamos de saber alguma coisa sobre esse assunto e as nossas dúvidas encontraram muitas respostas na belíssima exposição do Professor Luciano Pera Houlmont, biólogo marinho e pesquisador incansável, que recentemente expôs no Instituto Geográfico e Histórico de São Vicente (mais conhecido popularmente como “Casa do Barão”), onde mapas e muitas fotos foram tiradas através de Satélite, mostrando e provando que a antiga Vila de São Vicente, fundada por Martim Afonso de Souza, em Janeiro de 1532, ficou submersa em conseqüência do pequeno maremoto, mais fraco, que antecedeu o “tsuname” maior, submergindo o pelourinho, a casa do Conselho e a Matriz de Nossa Senhora da Conceição, atrás do morro dos Barbosas e não do lado de cá, onde está a Praia do Gonzaguinha, como apregoa a maioria dos historiadores. Diante desta nova evidência, o Marco da Fundação de nossa cidade está em local errado. O que se seguiu após este pequeno maremoto, foi a contratação de Pedro Colaço e Jorge Mendes, que foram pagos para retirada dos sinos e do pelourinho, cujo trabalho de pedreiro foi confiado a Jeronimo Fernandes  que afixou novamente o pelourinho na praça.

                   Na madrugada de 25 de Maio de 1542 caiu um meteoro gigante entre a Ilha Porchat, na Praia de Paranapuã e um pedaço dele abriu uma cratera  no Morro da Prainha e esse meteoro bateu na água provocando a primeira grande onda, que bateu no leito marinho afundando-o até uns cinco metros, devido a presença de cavidades de antigos túneis de lava vazios, abaixo do leito, que acabou provocando a Segunda grande onda, que se dirigiu para os fundos do canal, abrindo uma baia no Gonzaguinha  e uma menor, ao lado do morro dos Barbosas. Todos os habitantes morreram,  menos na outra metade da vila (atrás do referido morro).

                   Prosseguindo o relato da catástrofe, pode-se observar através das fotos do Professor Luciano que a vila do Bacharel-mestre Cosme Fernandes, com sua torre de pedra e uma ilha (Tumiarú) fortificada  com três torres e um pátio cercado por guaritas e torres (do outro lado e em frente a este povoado), onde Martim Afonso chegou em 1532, afundaram e ficaram totalmente submersos pelas Duas ondas  gigantes.  Todos  estes   fatos   estão   devidamente   comprovados   em diversas fotos expostas na Casa do Barão.

                   A pesquisa do Prof. Luciano contraria todas as pesquisas históricas anteriormente feitas sobre o grande tsuname vicentino de 1542 e praticamente reescreve a história de nossa cidade.

                   Ainda sobre o fidalgo e navegador português Martim Afonso, de acordo com os documentos históricos, ficou constatado que após sua chegada em 1532, que ele dirigiu-se ao povoado trazendo ordens expressas de D. João III, rei de Portugal, para exilar novamente o degredado Cosme Fernandes (o Bacharel) em Cananéia e isto ocorreu porque Henrique Montes, tinha ido à Corte para divulgar suposta   conspiração engedrada pelo Bacharel contra Portugal, por inveja e ambição. Martim Afonso, após ter expulsado o degredado das terras vicentinas, ordenou a construção de uma vila, com Casa de Conselho, igreja e pelourinho (atrás do morro dos Barbosas), pois ocupar o povoado do Bacharel, um degredado, estava fora de cogitação do rei.

                   O maremoto afundou a Ilha do Porto, o povoado do Bacharel, metade da ilha e a dividiu em duas: Sapomin e Araçanã e arrasou o Porto das Naus, atrás da ilha fortificada. Concluindo esta análise das pesquisas do Prof. Luciano, podemos resumí-las em nove pontos, como segue: 1. A presença da ilha do Porto, nunca mencionada em outras pesquisas – 2. Os alicerces do povoado do Bacharel – 3. As fortificações nas ilhas Araçanã e Sapomin – 4. Engenho do Leitão no Morro da Prainha – 5. Os canhões e fortificações afundadas perto da Biquinha –              6. A presemça detectada pelas fotos do satélite de seis caravelas piratas na baia de São Vicente e três nos arredores. – 7. Cratera do pedaço de meteoro no morro da Prainha – 8. Presença de fortificações no morro da praia de Itaquitanduva e          9. Cratera do meteoro ao lado da praia de Paranapuã.

                   O que se estranha é a falta de colaboração, por parte das autoridades municipais de nossa cidade, através de patrocínios, que poderiam viabilizar os mergulhos necessários nos locais mencionados acima, principalmente na baia de São Vicente e nos arredores de São Vicente, visando o resgate histórico de todas as riquezas, que se encontram nessas caravelas piratas submersas, pois como é do conhecimento do público em geral, os piratas tinham como objetivo saquear bens em outras embarcações e em vilas, que eram invadidas, com este propósito, e nem é preciso dizer que amontoavam essas riquezas nos porões de suas caravelas, riquezas que estão há quase 500 anos submersas, à nossa espera. Não se compreende também o distanciamento dos biólogos e mergulhadores que trabalham para a Universidade de São Paulo, que não tem o mínimo interesse de aprofundar as pesquisas do Prof. Luciano e ajudá-lo nesse resgate histórico. Talvez, um pouco de ciume da parte deles, por não ter participado dessa descoberta arqueológica. Nem mesmo uma universidade da nossa região demonstrou interesse em colaborar com ele, a princípio demonstraram interesse, depois desistiram do projeto ao descobrir que não ficariam com os direitos autorais dessas descobertas, pois esses direitos já estão de posse do nosso mestre vicentino, o Professor Luciano Houlmont. O que desejamos ressalvar é que ele obteve o apoio de uma empresa, que se prontificou a fazer os primeiros mergulhos na baia de São Vicente, gratuitamente, por conta deles, e o resultado disso foi que muitas fotos foram batidas dentro da água, comprovando que as caravelas continuam lá e são facilmente identificadas pelo formato dos  canhões, que são construídos de forma diferente, nos países de onde saíram estes piratas: Inglaterra, França, Holanda, Espanha, etc.

                   Podemos concluir afirmando que o pior tsuname da história de São Vicente não foi aquele de 1542, que deu primazia à nossa cidade “célula mater” da nação brasileira, primeira em tudo até no aparecimento dos terríveis maremotos, e sim o tsuname da ignorância dos nossos governantes, que submerge qualquer idéia, qualquer projeto, que possa engrandecer nossa querida cidade, mas que não vem ao encontro de seus projetos políticos, que possa trazer algum lucro as suas já abastadas e polpudas algibeiras. Nenhum projeto vinga diante dos interesses escusos e o descalabro político de uma nação.

                   Como dizia  Eduardo Souza, em sua brilhante crônica de 07.01.2005, publicada na Internet, citando Sófocles, em Antígona: “Das catástrofes não formuleis desejos... Não é lícito aos mortais evitar desgraças que o destino lhes reserva!” e sua conclusão não muito otimista: “É, o tal tsuname e essa inclinação do eixo da Terra mexeram com muita gente e ainda vão dar o  que falar. Até quando, meu Deus, estaremos sujeitos aos caprichos da Mãe Natureza? Enquanto isso, o negócio é procurar o galho mais alto  ou encomendar uma arca, ou mesmo uma canoa de voga. Vai que vem ai o ”Dilúvio II”. Faço minhas as suas palavras:

 Vem ai, o Tsuname Vicentino II e que Deus nos proteja desta barbaridade.

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Crônica publicada na Antologia “Encontros” da Guemanisse Editora e Eventos Ltda. – Rio de Janeiro – Páginas 84 a 88 em 2007.

  

 

 

 

 

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