Eu também choro todos os dias !
Choro pela minha aposentadoria ser uma “merreca” !
Choro porque não posso mais pagar meu Plano de Saúde !
Choro pelas dívidas que tenho de pagar !
Choro porque não acerto a Megasena !
Choro por esta velhice de gota, artrite, hipertensão e gastrite !
Choro porque minha mulher só reclama !
E para completar meu time perdeu. (chora)
Calma gente! Não é desse choro que estamos falando nessa roda.
Estamos nos referindo ao choro, gênero musical consagrado pelos nossos mais
famosos “chorões” e que vamos prestar, nessa ocasião, uma homenagem a todos
eles, contando um pouco da história do chorinho, dos músicos que o consagraram e
o que ele representa, há mais de um século na cultura musical brasileira.
Texto de Ivan Matvichuc e Fátima Queiroz interpretado no início do evento
comemorativo de homenagem ao Choro, na Casa de Angola do Horto Florestal de São
Vicente-SP.
HISTÓRIA DO CHORINHO
Gênero criado
a partir da mistura de elementos das danças de salão européias (como a valsa, o
minueto e, especialmente, a polca) e da música popular portuguesa, com
influências da música africana. De início, era apenas uma maneira mais emotiva,
chorosa, de interpretar uma melodia, cujos praticantes eram chamados de chorões.
Como gênero, o choro só tomou forma na primeira década do século 20, mas sua
história começa em meados do século XIX, época em que as danças de salão
passaram a ser importadas da Europa. A abolição do tráfico de escravos, em 1850,
provocou o surgimento de uma classe média urbana (composta por pequenos
comerciantes e funcionários públicos, geralmente de origem negra), segmento de
público que mais se interessou por esse gênero de música.
Em termos de
estrutura musical, o choro costuma ter três partes (ou duas, posteriormente),
que seguem a forma rondó (sempre se volta à primeira parte, depois de passar por
cada uma). A origem do termo choro já foi explicada de várias maneiras. Para o
folclorista Luís da Câmara Cascudo, esse nome vem
de xolo, um tipo de baile que reunia os escravos das fazendas; de xoro, o termo
teria finalmente chegado a choro. Por outro lado, Ary
Vasconcelos sugere que o termo liga-se à corporação musical dos
choromeleiros, muito atuantes no período colonial. José
Ramos Tinhorão defende outro ponto de vista: explica a origem do termo
choro por meio da sensação de melancolia transmitida pelas baixarias do violão
(o acompanhamento na região mais grave desse instrumento). Já o músico Henrique
Cazes, autor do livro Choro – Do Quintal ao Municipal, a obra mais completa já
publicada até hoje sobre esse gênero, defende a tese de que o termo decorreu
desse jeito marcadamente sentimental de abrasileirar as danças européias.
Vários
músicos e compositores contribuíram para que esse maneirismo inicial se
transformasse em gênero. Autor da polca Flor Amorosa,
com letra do Catulo da Paixão Cearense, que é
tocada até hoje pelos chorões, Joaquim Antonio da Silva
Callado foi professor de flauta do Conservatório de Música do Rio de
Janeiro. De seu grupo fazia parte a pioneira maestrina
Chiquinha Gonzaga, não só a primeira chorona, mas também a primeira
pianista do gênero. Em 1897, Chiquinha escreveu para uma opereta o cateretê
Corta-Jaca, uma das maiores contribuições ao
repertório do choro. Outro pioneiro foi o clarinetista e compositor carioca
Anacleto de Medeiros, que realizou as primeiras
gravações do gênero, em 1902, à frente da Banda do Corpo de Bombeiros. Assim
como outros registros posteriores, essas gravações indicam que a improvisação
ainda não fazia parte da bagagem musical dos chorões naquela época.
SOFISTICAÇÃO
Essencial
para a formação da linguagem do gênero foi a obra de
Ernesto Nazareth, que desde cedo extrapolou as fronteiras entre a música
popular e a erudita. O autor de clássicos como Brejeiro,
Odeon e Apanhei-te Cavaquinho destacou-se
como criador de tangos brasileiros e valsas, mas de fato exercitou todos os
gêneros musicais mais comuns daquela época. A sofisticação da obra de Nazareth
era tamanha, que (exceto no caso de Radamés Gnattali,
um de seus melhores intérpretes) sua obra só foi definitivamente integrada ao
repertório básico dos chorões nos anos 40 e 50, por meio das gravações de
Jacob do Bandolim e Garoto.
Também
genial, Alfredo da Rocha Vianna Filho, o
Pixinguinha, contribuiu diretamente para que o
choro encontrasse uma forma definida. Para isso, introduziu elementos da música
afro-brasileira e da música rural nas polcas, valsas e tangos dos chorões. É o
caso do maxixe Os Oito Batutas, gravado em 1918,
cujo título antecipou o nome do primeiro conjunto a conquistar fama na história
da música brasileira.
Outra
personalidade de peso na história do gênero foi o carioca
Jacob Bittencourt, o Jacob do Bandolim,
famoso não só por seu virtuosismo como instrumentista, mas também pelas rodas de
choro que promovia em sua casa, nos anos 50 e 60. Sem falar na importância de
choros de sua autoria, como Remeleixo, Noites Cariocas e
Doce de Coco, que fazem parte do repertório clássico do gênero.
Contemporâneo de Jacob, Waldir Azevedo superou-o em
termos de sucesso comercial, graças a seu pioneiro cavaquinho e choros de apelo
bem popular que veio a compor, como Brasileirinho
(lançado em 1949) e Pedacinhos do Céu.
LINGUAGEM DAS BIG BANDS
Um dos
exemplos mais bem resolvidos de união entre o choro e o jazz pode ser encontrado
na obra do maestro e arranjador pernambucano Severino
Araújo, que pouco depois de se mudar para o Rio de Janeiro, em 1944,
decidiu adaptar sambas e choros à linguagem das big bands. À frente da Orquestra
Tabajara, Araújo gravou vários choros de sua autoria, como
Espinha de Bacalhau e
Um Chorinho em Aldeia, exemplos seguidos por outras orquestras do
gênero ou compositores como Porfírio da Costa e K-Ximbinho.
Outro brilhante adepto da fusão do choro com o jazz foi o maestro
Radamés Gnattali.
O Rio de
Janeiro é a incontestável capital do choro, mas não faltaram músicos de
expressão no gênero, originários de outras partes do país. Um dos pioneiros foi
o violonista João Pernambuco, que trocou o sertão pernambucano pelo Rio, em
1904. Além de ter feito parte do conjunto Os Oito Batutas, ele é até hoje
cultuado pelos violonistas brasileiros, que continuam interpretando suas
composições para violão.
Outro centro
de cultivo e desenvolvimento do gênero foi São Paulo, onde se destacaram chorões
como os violonistas Armandinho Neves, Antônio Rago e, especialmente, Aníbal
Augusto Sardinha, o Garoto. Virtuose do violão, ele acompanhou a cantora Carmen
Miranda nos EUA, em 1939. O contato direto com o jazz influenciou sua obra,
inclusive seus choros, que hoje são tocados por violonistas de vários cantos do
mundo, incluindo o também paulista Paulo Bellinati, um dos principais
divulgadores da obra de Garoto.
REVITALIZAÇÃO
Estimulado
pelo show Sarau, com Paulinho da Viola e o grupo
Época de Ouro (e em parte pelo sucesso do grupo Novos Baianos), o choro conheceu
um período de revitalização, nos anos 70. Não apenas surgiram grupos jovens
dedicados ao gênero, como os cariocas A Fina Flor do Samba,
Galo Preto e Os Carioquinhas.
O novo interesse pelo gênero propiciou também a redescoberta de veteranos
chorões, como Altamiro Carrilho,
Copinha e Abel Ferreira,
além de revelar talentos mais jovens, como os bandolinistas
Joel Nascimento e Déo Rian.
Sem dúvida, o músico mais brilhante dessa nova geração foi o violonista carioca
Rafael Rabello, que apesar de ter morrido
prematuramente, aos 32 anos, em 1995, deixou gravada uma obra de peso.
Já a partir
dos anos 80, o choro passa a estabelecer outras conexões musicais. Grupos de
espírito chorão, como a Camerata Carioca e a Orquestra de Cordas Brasileiras,
também traziam em seus repertórios música erudita de Bach,
Vivaldi e Villa-Lobos, ou mesmo o tango
contemporâneo de Astor Piazzolla. Por outro lado, a
música popular brasileira passou a flertar mais com o choro através de obras de
influentes compositores e letristas, como Paulinho da
Viola e Chico Buarque, ou instrumentistas,
como Hermeto Pascoal.
( Fonte pesquisada na Internet: “CLIQUE MUSIC”
Material didático utilizado no curso.
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Em 10 de Junho de 2004 foi realizada uma “Roda de Choro” na Casa de Angola
situada no Horto Florestal de São Vicente-SP, sob a coordenação do professor
universitário Carlos Alberto Andreoli, ocasião em que foi prestada uma homenagem
a diversos “chorões”, alguns ainda vivos, outros saudosos. A “Roda do Choro” foi
o resultado final de um curso sobre esse gênero musical ministrado durante dois
meses pelo Professor Marcelo Laranja, presidente do Clube de Choro de Santos. A
festa de encerramento foi abrilhantada pelo Conjunto de Choro do referido clube
e a participação da Mídia, através de dois canais de televisão de nossa região,
a TV Mar de Santos e a TV Primeira, de nossa cidade.
São Vicente, 14 de Novembro de 2004
Ivan Matvichuc e Fátima Queiroz
(alunos do curso Resgate do Choro)
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